Não há dúvida que a mulher jovem traz consigo, junto com o frescor da mocidade, um lindo brilho deslumbrado dos olhos, a pele lisa e esticada, a musculatura firme, o jeito brejeiro e, às vezes, dependendo da idade, uma inocência de menina escondida atrás da vontade de já ser mulher.
Algumas têm um andar arrogante, o nariz empinado, como se dissessem "Eu sou maravilhosa e não estou nem aí pra você", com passadas pretensiosas.
Afinal, as propagandas são protagonizadas por jovens, as novelas também, os filmes, a poesia, a literatura, e mesmo no teatro, apesar de ser uma arte milenar, são eles, os mais novos, que atraem mais público.
Imagino que na relação de um homem maduro com uma moça a conversa seja interessante. Ele sorvendo os pensamentos ingênuos e os entusiasmo juvenil dela, ela absorvendo dele as sabedorias do tempo vivido.
Ela talvez tenha o raciocínio parecido com o seu corpo: liso, esticado e firme.
E ele talvez já esteja um pouco enrugado, no corpo e no raciocínio. Não deixa de ser interessante. Claro, há sempre o risco de se tornar um papo chatíssimo para ambos.
A distância de gerações, as inevitáveis diferenças de expectativas e de objetivos são complicadores.Mas também, por outro lado, os oposto se atraem.
E, na hora das carícias finais, ela estará insegura, mas fingindo uma segurança absoluta, fazendo de conta que sabe tudo e mais um pouco, e isso pode ser bem divertido.
Enfim, há vantagens e desvantagens em ter uma relação com uma mulher muito mais jovem.
Mas, e a mulher mais madura, a de 40, 50 anos?
Comecei a raciocinar sobre elas, desatei a pensar na mulher de meia-idade, aquela por quem a gente sente um misto de atração e respeito, tesão e admiração, um impulso de abraçar e beijar e ao mesmo tempo uma vontade de bater um bom e longo papo, e que suscita a esperança de termos achado a mulher de nossa vida.
Aquela do pileque e da transa inesquecíveis. Essa já não tem a pele tão jovem, e isso lhe confere uma textura macia e delicada de tal forma que as possibilidades se ampliam.
A musculatura dela já não é mais tão firme, e por isso mesmo é mais agradável ao toque, porque é mais feminino. O músculo rijo é uma coisa meio masculina, pois não?
O seio não está mais empinado como ela própria gostaria, e há sempre uma estria aqui e ali, sinais de vivência, de mulher que passou por todas as etapas do processo, do prazer à maternidade.
Sinais de tempo de vida, de experiência, de quilometragem. Que bom! Os tempos não estão para preconceitos. Ao contrário, são de tolerância e acolhimento.
Uma mulher não perde a feminilidade nem a delicadeza pela quantidade de homens com que se relacionou, até pelo contrário.
Uma mulher madura olha para o homem sem aquele deslumbramento juvenil. Mas que olhar!
Atravessa a gente feito um par de flechas.
Um olhar que promete e provavelmente cumpre, que não apenas enxerga, vai muito além, faz uma prospecção profunda.
Seu andar é épico, é mais que um poema, como disse o poeta, e cada passo é um verso que rima com o outro, e com o outro...
A vaidade e o feminino estão firmes e sob controle.
O papo já começa com alguma intimidade sem que se saiba exatamente por quê. É conversa boa, consistente, cheia de silêncios gritados e etapas superadas. A cumplicidade é generosa, a discordância é afrodisíaca e as diferenças existem, graças a Deus.
E a transa, ah a transa! É passo a passo, inexorável, intensa, sentida, gostosa, o tempo agora é um amigo fiel, para o lento ou para o rápido, e objetivo não é mais um só, são tantos! E, entre tantos, a mulher mais velha definitivamente sabe o que quer, para si e para o parceiro. Ela é seletiva, ela não quer ser mais paquerada simplesmente, quer ser desejada, não quer apenas ficar, quer se envolver.
E sua beleza é peculiar, só dela, só dessa idade.
Quando está de bem com a vida, é tolerante e acolhedora, eterna precursora dos novos tempos.
Não raro, a maternidade preencheu nela uma sabedoria afetiva inigualável, solidária, que supera qualquer filosofia ou religião. Ela tem jogo de cintura.
É a mulher de verdade contemporânea, muito melhor que a Amélia do Mário Lago e do Ataulfo Alves, que era submissa e não tinha vaidade nenhuma.
Além disso, a Amélia é de outros tempos.
Hoje, as cicatrizes são uma necessidade porque os tempos são outros, e não há nada mais carinhoso, romântico e sensual do que beijar uma cicatriz da mulher amada, aquela que está com você e não abre, que é parceira, cúmplice, amiga, protetora e protegida, amante.
A mulher madura.
Uma mulher que compreende as diferenças e sabe que o importante mesmo é chegar junto.
Mas a mulher é fundamental em qualquer idade.
A essência feminina carrega a doçura, a complacência e um entendimento do outro que nenhum homem tem.
Que nos dera a humanidade tivesse sido comandada pelas mulheres desde sempre.
Quem sabe assim o mundo todo já seria como um só, como imaginou John Lennon.
Talvez até o coletivo já tivesse alcançado a mesma importância que se dá ao indivíduo, o devaneio de Marx.
Ou estaríamos, finalmente, amando uns aos outros, como deveria ser.
Foi isso que eu pensei sobre as mulheres.
Texto Herson Capri
(Artigo retirado da Revista LOLA, Editora Abril, ano 1, n. 11, p.48-51, ago./2011.)
Bjsss
Cris
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